MEZINHAS... DOMESTICAMENTE CASEIRAS

     Paulo Passos (Psicólogo clínico)

Braga, Portugal / 2020


    (Meados dos anos 80 do Séc. XX, quando por lá andei, ouvia em frequência as sábias e experientes palavras de Maria Clementina Mota Diniz (1941-2007), psicóloga clínica e chefe do Serviço Central de Psicologia Clínica do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, onde dizia que um licenciado (pré-Bolonha, acrescento) em Psicologia precisava de 10 anos para se transformar num psicólogo.
    Segundo um colega (e amigo) que, uns anos depois, também por lá andou, o prenúncio salientava-se ainda de modo mais exigente (...tal não foi o desânimo e o desencanto, face às crenças sobre a Psicologia em Portugal, que a insigne Senhora se foi apercebendo ...!... digo eu!): "são formados hoje, em Psicologia, daqui a 20 anos, logo se verá"... se serão psicólogos...!... mesmo que em simbolismo factológico ou em factologia simbólica.)
    Subentendendo-se, obviamente, desde que imerso num ambiente profissional sustentado na experiência e na disciplina, exigente, de rigor e com métodos de trabalho (e estudo) partilhados e integrados no cenário de orientação continuada e num movimento contrário ao do letal e vulgar caseirismo em "psicologia".)

    DESPERTAR PARA A CLAREZA, sobre práticas... DOMESTICAMENTE CASEIRAS...: AS MEZINHAS...!
    CONSULTA DE PSICOLOGIA (que se possa aconselhar)
    E
    CONSULTAR UM PSICÓLOGO
... não são, literal e linearmente, sinónimos e, em frequência, estão conceptualmente afastados e dissonantes.

    Porque psicólogos/cursados em Psicologia, sem qualquer contacto com a ambientalidade em Psicologia em contexto de Saúde, podem integrar e integram Serviços (amplo sentido) de Psicologia no SNS?

    Descurar, por um lado a especialização/formação (auferida no Ministério da Saúde, no registo formal, completo e de rigor) em Psicologia Clínica, no âmbito do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e por outro a robustez de carácter para o pleno exercício profissional, é garantir a incerteza face à qualidade de prestação de cuidados de saúde à população, no concernente à Psicologia.

     Abrigar e proteger a generalização de conhecimento académico (no seu mais comum modo de prática útil escassa ou nula), serve para usar e transformar o utente num parceiro de (in)satisfação, face ao papel que o "psicólogo" exibe para sua própria defesa, numa (falhada) tentativa de justificar uma profissão que, em verdade, não lhe encaixa na pertença, para além dos requisitos burocráticos básicos.

     Laborar em Psicologia Clínica não pode ser um fiasco ou uma encenação.
   Laborar em Psicologia Clínica é uma tarefa que não pode ser facilitada apenas por conveniências de serviço, de vontades idiossincráticas ou de inconsciências.
    Para o seu exercício, são exigidos determinismos (para além dos criados ambientalmente pela inclusão continuada em espaço de vida institucional de Saúde) científicos, clínicos, técnicos, teóricos, terapêuticos que apenas numa longa (mínimo de 4 anos) e continuada prática supervisionada numa instituição do Ministério da Saúde e por um psicólogo clínico em vigência (consciente, clara, competente, dedicada e aplicada) profissional de, pelo menos, 5 anos, poderá começar a assegurar as embrionárias competências inerentes aos desígnios do trabalho, no cumprimento de uma carreira contributiva, esta definida através do Decreto-Lei 241/94 de 22 de Setembro e designada como o Ramo de Psicologia Clínica da Carreira Técnica Superior de Saúde.

    Laborar em Psicologia, numa Instituição de Saúde Estatal, jamais poderá ser um arranjo ou um remendo para se continuar a fingir que se responde às necessidades sanitárias da população ou, pior, continuar a fingir tentar minimizar o defeito de um rácio ilusório.

    Como em muitas outras profissões, em Psicologia Clínica (no SNS) não pode existir o "do mal o menos".
    Não pode continuar a existir o "antes isto do que nada".
    Em Psicologia Clínica só pode existir o "é ou não é".

    (... estes e inúmeros outros exemplos...: Não integram um serviço de Neurocirurgia (num Hospital Estatal), médicos que não especialistas em Neurocirurgia, em contributo à garantia das prestações devidas para com a população e o prestígio profissional ordenado e organizado; como também não integram uma USF (num ACES), médicos não especialistas em Medicina Geral e Familiar).
Assim... e em desmérito do contrário... que abunda... questiona-se: porquê mezinhas discriminatórias?

    (Certamente que, em Psicologia, existem algumas excepções (sem que se invalide um qualificado processo de especialização ajustado), mas que não podem ser salientes em parangonas, sob risco de se generalizarem e reproduzirem...!. Do mesmo modo, em justo se diga, que a especialização, por si, pode não suportar a garantia da qualidade e da segurança às populações, quando não ancorada na robustez de carácter e da crítica.)

    Travestir (por conveniência alheia aos desígnios da Psicologia, qualquer que ela seja) é denegrir uma experiência do conhecimento, transformada em profissão e especular sobre competências e qualificações inexistentes.
    Travestir a Psicologia Clínica é, em absoluto, vandalizar, despurificar, denegrir e desconsiderar a população, manchando recursos com nódoas e mágoas que invadirão as mentalidades e opiniões, tornando manca uma profissão que, na sua já não tão curta historiografia portuguesa, tanto tem dependido de ferramentas auxiliares à sua locomoção.

Concluir um curso de Psicologia não é sinónimo de se ser psicólogo.
Não é verdade que todos são psicólogos, porque detentores de um curso de Psicologia complementado com apetrechos que lhe são sequenciais.
A confusão entre o academismo e o profissionalismo é letal para a vivência da Psicologia,
enquanto recurso sanitário de acesso das populações.

 .... an asleep`s kingdom ...

WAKE UP...

DIFERENCIAÇÃO E DISTINÇÃO

    (Um amigo (outro) provocou-me (via telemóvel), salutarmente, numa manhã domingueira, durante o seu bom hábito de fazer caminhadas (ele... eu pratico OUTRAS coisas que... não digo)...!
    Consciencializou-me, esse amigo, de que é função não desistir de alertar para (um assunto que tanto me rói a alma)... que, num momento da necessidade, a decisão e a escolha devam estar em protagonismo... porque:
    CONSULTA DE PSICOLOGIA (que se possa aconselhar)
    E
    CONSULTAR UM PSICÓLOGO
... não são, literal e linearmente, sinónimos e, em frequência, estão conceptualmente afastados e dissonantes.)

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