A PISCA-PISCA




Paulo Passos

Psicólogo

Braga/Portugal


Estava bem longe das intenções e das possibilidades destas, tanto institucionalmente como academicamente. 

Ficou-se pelas sobras.

Priscila Pisca-Pisca era mais um senão do academismo português (psicóloga, dizia, por uma qualquer Universidade de dúbio prestígio e de dúbia vocação e candidatura aceite na sua Ordem Profissional), materializado numa desprotegida e sujeita... qualquer institucionalidade pública.

Lidava muito bem com o caseirismo e arrastava, toda a sua função impostora e sobrecarregada de domesticidade,  para o emprego que empunhava, exibindo, às cegas, as costas sempre sujeitas a umas farpadas, que já não a feriam de sangue fresco. 

Era conhecida por Pisca-Pisca, não só pela razão da alcunha (vítima de estigmatizações neuróticas que se materializavam no tique de pestanejar involuntariamente), mas também pela facilidade com que manipulava a intermitência entre a lógica e o seu feitio de corpo versus feitio de alma.

Era uma intermitência regular, sendo que, em arena, a primeira sofria e falia (feitio de corpo) por imposição da segunda (feitio de alma).

Era o jeito de Priscila e no qual Priscila acreditava e, ainda, se ia movendo.

Certo que de alma já vergada mas, muito à custa, se ia ressuscitando enquanto se ia enfermando. 

O medo vingava e Priscila definhava, mas a alma lá se ia aguentando, vergando, 

Temia em incerteza, mas havia outro dia pela frente. 

Carreirista das oportunidades ...  na cega incompetência.

De dia-a-dia e de galho-em-galho, exercitava-se (e excitava-se) Priscila Pisca-Pisca.

A frágil armadura corroía-lhe a pele que suava, em jorro, ácida angústia.

Viveu assim.

Nunca descobriu.

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