O CARTUCHO DO AVIO
Paulo Passos (Psicólogo clínico)
Braga, Portugal / 2020
... estás todo intoxicado... são os pensamentos e são os sentimentos. Os teus.
Estás intoxicado e intoxicas tudo por onde passas.
Conspurcas esta merda toda...! E nem vírus és... nem o 19, ou o 21 ou o 69...!
Mais jeito de fungo...!
És um cartucho. És um avio... que ninguém quer. Nem tu. Nem a outra que te pariu. Aliás, essa, pariu-te crendo na sua boa condição de gente e de mãe. Também ela é um cartucho aviado de uma visão romântica, num cenário de revolta que não pode manifestar-se. Acha-se e mostra-se feliz. É admirada, até, pelos pares que compõem o mesmo ramalhete de arcaísmo, mansidão e de amordaçamentos.
Ouvi ou li ou... (já não sei bem onde)... que "(...)indecência é a castração do sexo, do amor, da alegria(...)",..., mas sei que tu não concordas.
Feitios e feitios de corpo.
Modas e design(s) para o cartucho.
Sem modas e design(s) para o avio.
Modas para o pacote.
Sem modas para o recheio.
Ferramenta-se, a mãe (e o pai, e a restante matilha próxima e menos próxima), no enfeite do cartucho, abafando o avio, já escondido na dôr, não vá a cobiça se encantar. Torna a castrar... fica mais seguro...!
Passerelles para as modas do cartucho.
Passerelles para as modas do avio?
Há GENTE? Falta descobrir, faliu ou está na gruta?
Crescem cartuchos vazios de avios... mas apreciados e (em desgraça) reproduzidos em exaustão, vítimas de um tesão flácido, des-urrado, sem jeito (mas engravatado e de colares aos peitos).
Nascem de um pobre fragmento de tesão silenciado pelos arreios, pelas trelas e demais ferramentas da domesticação... até se finar para sempre...! Foi uma vez...!
E, assim, nasceu mais um, na produção tugar... perpetuadamente rebanhista. Tadinho.
Tatuados na imaturidade e na consignação ao medíocre... que se enfeite a gosto dos donos...!
Uma biqueirada valente nesses cornos trariam-te algum alívio, ainda que não te apercebesses... tal não é a tua patética condição (mas... que te é suficiente).
Faliu o avio. Só há cartucho e militantes.
(Des)esperar, A.MORTE.CENDO, pela próxima época de reprodução.
Amordaçados.
Mansidão em glória.
A gravidade também tem efeito no ânimo.
Prosa poética de qualidade! Parabéns. Desespero e desesperança como condimentos de queimar a língua e o pensentir”
ResponderEliminarGrato pela observação. Verdade é o que diz... a desesperança enfeitiçada de sucesso conduz ao desenfreamento que a matilha, na ânsia de um pequeno ossito, se desfaz em agonias. Alguém tem que ter a língua queimada...! This is our insane psychological environment. Abraço ALA (será assim?)
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